A Vala de Perus e a questão democrática.
Este livro é um esforço conjunto do Instituto Macuco com a Comissão de Anistia – Projeto Marcas da Memória do Ministério da Justiça, que aprovou o projeto que se desenvolveu tendo como objetivo o levantamento de documentação para a busca do resgate da história, bem como a outras ações na área de defesa dos direitos humanos, relacionados com o achado em São Paulo, no ano de 1990, no Cemitério do Bairro de Perus, de uma vala clandestina com ossadas não identificadas. O convenio inclui esta publicação, bem como, a realização de exposição fotográfica com caráter essencialmente documental.
A proposta é que os produtos resultados deste projeto sirvam como fonte de informação, pesquisa e estudo sobre um período que deve ser lembrado sempre, para que jamais seja repetido. Sua concretização ocorre em momento extremamente sensível para a sociedade brasileira. Passados 27 anos do momento em que, no processo de transição conservadora que superou a ditadura militar vigente por 21 anos, o poder político da nação voltou às mãos dos civis, assistimos a uma multiplicação de ações que reafirmam a necessidade da sociedade civil se manifestar sobre este passado que alguns, muitas vezes com a mesma arrogância e violência que praticavam na época da ditadura, insistem em apagar. Não se trata, de nossa parte, de qualquer tipo de revanchismo. Não pretendemos sequestrar, torturar ou assassinar ninguém, como o fizeram sequestradores, torturadores e assassinos hoje acobertados pela anistia ambígua imposta pela ditadura militar. Buscamos o desvelamento do ocorrido neste período histórico certos que a recuperação destas informações trará contribuição substantiva para o aprofundamento da democracia e da justiça social em nosso país. A mobilização da juventude ao contestar, democraticamente, no passado 30 de março de 2012, em atitude inovadora e plena de dignidade, aqueles que pretendiam provocativamente comemorar o golpe de 64 é mostra da renovação e atualidade deste sentimento.
Estas mobilizações de maior exposição, como as ações públicas visando mostrar a permanência e impunidade de conhecidos participantes de torturas como o médico torturador, cassado pelo CRM, Harry Shibata, se combinam com inúmeras outras em que grupos e comissões regionais ou locais estão sendo organizados para recuperar informações sobre as inúmeras violências cometidas contra a população nas mais diversas formas. Pretende-se que suas ações sejam as mais amplas possíveis e já começam a apontar inúmeras situações que muitas vezes espantam por não serem parte do passado mas pela continuidade de sua ocorrência. Listas negras de trabalhadores que inviabilizam sua contratação em empresas não ocorreram apenas na ditadura, continuam a ocorrer. Espionagens clandestinas contra trabalhadores da cidade e do campo, com perseguições, discriminações e assassinatos, também continuam a ocorrer, incluindo agentes do serviço público, religiosos e outras lideranças da sociedade civil. Boa parte deles ainda impunes. A publicação deste livro, com a qual o Instituto Macuco tem a honra de contribuir, chama a atenção sob vários aspectos. Em primeiro lugar é o primeiro relato documentado do que foi a primeira comissão legislativa a investigar os crimes da ditadura que vigeu no país de 1964 a 1985. A coragem política do executivo eleito em 1988, na pessoa da Luíza Erundina e de combativa bancada de vereadores do legislativo paulistano. Foi essa Comissão a primeira a colocar no banco dos réus, num poder instituído, o legislativo paulistano, que tanta submissão deveu aos ditadores de 64 a 85 responsáveis pelas perseguições, torturas e assassinatos praticados pelo mais longevo período ditatorial da história republicana do Brasil. Ouviu depoimentos de perseguidos e perseguidores, torturados e torturadores, dirigentes políticos contrários e a favor da ditadura, exemplo a servir para as atuais comissões da verdade.
Instituto Macuco
Ilustrações do Livro
Fotos Lançamento realizado na FESPSP em 04 de setembro de 2012
Exposições Realizadas: