Instituto Macuco, projeto premiado – Museu da Sustentabilidade.
O pavilhão do ar e da terra
A análise cuidadosa do sítio foi fundamental para a concepção da Casa da Sustentabilidade. Através do aproveitamento consciente dos recursos naturais ali disponíveis – o vento, a água, o sol, o solo e a vegetação, gerando um ambiente confortável com consumo de energia e de água reduzidos. Além disso, produz-se energia verde e estoca-se a água da chuva. A Casa da Sustentabilidade será completamente integrada dentro dos ciclos da natureza e capaz de utilizá-los sem causar danos.
Com o seu grande telhado de duas águas, o edifício evoca as fazendas do interior do Estado de São Paulo e pretende ser uma modernização dessas construções – tradicionais e familiares à sociedade de Campinas e da região. A fim de mostrar uma construção modelo e educativa sobre a variedade de possibilidades alternativas de projetos, materiais e métodos construtivos, o edifício é composto de dois blocos contrapostos e complementares. O grande pavilhão é leve, toca o chão pontualmente e é refrescado pelo vento, enquanto o volume inferior é integrado no talude existente e coberto por um telhado com vegetação para aproveitar a inércia da terra. Essa pluralidade do espaço arquitetônico – além de ser particularmente eficiente por seu objetivo educativo – traduz uma relação harmoniosa e poética com o entorno e o ambiente.
Implantação
A implantação do projeto foi escolhida por três razões: primeiro, a orientação Leste-Oeste facilita o sombreamento das fachadas; segundo, ele capta particularmente bem os ventos e terceiro, posicionado paralelamente ao edifício da guarda municipal, o projeto se conecta ao entorno construído do próprio parque.
Assim, o projeto excede o limite de intervenção proposto como reforço de seu partido: tal ocupação está de acordo com as técnicas construtivas e com o aproveitamento dos recursos naturais por ele propostos. O talude orienta a implantação e permite o jogo estético feito pelos dois volumes, entre pesado e leve.
O volume inferior se acomoda na inclinação do talude, destacando o pavilhão expositivo, visível desde a entrada do parque. Localizada na cota mais baixa do terreno, a bacia de recuperação de água de chuva espelha este volume, elevado em relação a sua superfície. Essa perspectiva pode ser percebida desde o percurso do bonde e atrai os visitantes do parque. O eixo de entrada do conjunto é demarcado pelas palmeiras, que trazem sombra sem deter o vento.
A pequena movimentação do solo será remanejada no paisagismo do terreno, sem a necessidade de remoção de terra.
Programa
A solução espacial de dois volumes sobrepostos e articulados por um saguão comum permite controlar facilmente os fluxos e diferenciar as áreas de acesso livre das áreas de acesso restrito. De fato, o bloco de cima é público, enquanto aquele de baixo é privado.
O centro da Casa é o saguão de acesso. Plenamente aberto ao exterior, ele é o ponto de início da experiência do visitante. Ele possui um balcão de recepção e um grande painel interativo que mostra em tempo real o consumo e a produção energéticos do edifício.
O volume superior acolhe o espaço de exposição e o salão. A sala expositiva é um grande volume transparente que desfruta de uma vista privilegiada do parque, expandindo-se para o exterior e possibilitando a utilização do terraço e do teto-jardim do volume inferior para atividades ao ar livre. O auditório é flexível, comporta ampla variação de layout e possui salas generosas para reserva do museu e depósito.
A Casa da Sustentabilidade não se restringe ao edifício, abrangendo toda a área de intervenção. O percurso educativo do jardim permite aos visitantes entender os ciclos da água, da energia e das matérias-primas. A chuva escoa pelo telhado, é captada nos reservatórios e enviada para a bacia de retenção. O esgoto é tratado nas bacias filtrantes que aproveitam a topografia existente. A demanda de eletricidade necessária ao funcionamento do complexo (edifício e jardim) é suprida pelos painéis fotovoltaicos do telhado e pela energia eólica.
A horta educativa utiliza os fertilizantes naturais da estação de compostagem. Reunida com o material dos banheiros secos, pode atender as demandas de uma zona mais ampla do parque.
As colmeias permitem a sensibilização dos visitantes em relação a natureza e o aumento da biodiversidade do Parque Taquaral, uma vez que as abelhas são muito sensíveis à poluição do ar. As verduras e o mel produzidos poderão ser servidos e/ou vendidos no pequeno café/loja do saguão no final da visita.
Volume público
O volume público do edifício é sutilmente elevado em relação à cota superior do terreno, mostrando-se franco a quem adentrar o parque pelo portão 05. Esse espaço entre o chão e o piso permite a circulação de ar para resfriar o edifício e mostrar um método construtivo respeitoso que não nivela o chão. Ele dispõe basicamente de três espaços sob uma grande cobertura leve e de cor clara, capaz de captar o sol, a chuva e os ventos. A planta linear favorece a iluminação e a ventilação naturais e permite a maior flexibilidade do espaço e das atualizações dos sistemas tecnológicos. O edifício funciona como uma máquina dinâmica de eficiência energética, ele é uma construção sem gordura que mantém seu esqueleto à mostra. A estrutura em madeira, com peças de eucalipto laminado, colado e são conectadas por insertes metálicos e apoiadas sobre fundações de concreto levemente afloradas no terreno. Deste modo, cada material trabalhará para que se obtenha melhor desempenho e durabilidade, reduzindo o custo da pós-ocupação e da manutenção a longo prazo, em conformidade com a característica de um edifício público exemplar.
Em sistema de resfriamento através de vaporização de água perpassa o topo da cobertura, produzindo uma nuvem de vapor que permite seu resfriamento. Este foi escolhido por ser uma alternativa eficiente ao ar-condicionado, porém mais econômico e com apelo interativo, um efeito lúdico e didático.
Volume privado
O volume privado é mais reservado no seu uso e também na sua expressão formal. Semienterrado com taludes de terra armada, muros de gabião e cobertura-jardim, ele aproveita a geotermia para a regulação da temperatura. O edifício tem uma estrutura mista com pilares de vigas de aço e madeira com uma cobertura de madeira e sobrecapa de concreto impermeabilizado. Graças ao talude-jardim, o volume abre-se dos dois lados e é beneficiado com boa iluminação e ventilação naturais: do lado da bacia, alguns sprinklers refrescam o ar antes de entrar no edifício. O volume da administração é organizado linearmente. Um grande corredor de distribuição segue o espelho d’água e conecta a entrada, localizada perto da escada, ao espaço livre da administração. As duas salas de uso múltiplo são localizadas perto da entrada, para facilitar o fluxo, e as salas de reunião são flexíveis. Projetadas para 30 e 15 pessoas, podem se unir e formando um único ambiente.
CONCURSO PÚBLICO NACIONAL DE ARQUITETURA “CASA DA SUSTENTABILIDADE” PARQUE TAQUARAL – CAMPINAS – SP
Premiação : menção honrosa
Autor: Instituto Macuco
Arquitetos: Pedro Freire, Simon Le Rouic
Equipe de projeto: Camille Reiss, Marina Smit
Paisagistas: Moz Paysage: Tien-Hung Hwang, Ewen Le Rouic
Ano: 2016
Localização: Parque Taquaral, Campinas, SP, Brazil
Área: 1500 m2 construídos, 10 000m2 de terreno
Créditos fotográficos: SuperTropic Architecture